Num quarto distante, num tempo nem tão distante…
– Hahahaha sou apenas uma fã. Eu adorei, Arthur!
– Hahahahahahaha obrigado, eu nem sei o que dizer….
– hahahahhaha adorei, Arthur!
– Hahahahah qué isso! Falei nada demais…
– Hahahhahaha adorei, Arthur!
– Isso é uma pegadinha?
– Haaaaaaaaaaaaaahahhahahahah muito boa, adoreeeeei, Arthur!
– Olha, não é por nada não, mas eu estou achando essa situação muito surreal…
– AAAAAAAAAAAAAAHHAHAHHAHA ADOREI, ARTHURZINHO!
Arthur começa a olhar pros lados, paranoico, crente de que estava sendo gravado pela Interpol.
– Eu sei que vocês estão me vendo. E eu sei que vocês estão realizando um experimento social. Hahaha tolos…. Acham que eu não sei que vocês são…. hehe… DA INTERPOL!
– UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUHHHHHH ARTHURRRRR, EU ADOREI!!!
– Não me siga.
– adorei, arthur
Ele sai andando às pressas em direção a porta, abre ela e sai. A menina só ficou ali esperando. Arthur começa a sentir um vazio muito poderoso por dentro, então ele volta para olhar para aquela menina apenas mais uma vez. Abriu a porta e a viu, ela estava sorrindo. Então Arthur acelera seus passos e senta próximo da menina. Tentou uma abordagem mais amigável:
– Acabei sentindo saudade de ouvir você…
Mas nada aconteceu! Ela apenas o olhava. Arthur começou a ficar muito incomodado, como se sentisse uma coceira na cara. Era irritante o silêncio dela… Ela precisava falar aquelas palavras, afinal, ela era sua fã e o adorava!
– Qual o seu nome?
Arthur tentou puxar assunto.
– Sério que vai ficar de zoeira?
Nada, nenhuma resposta. Arthur ficou irritado, levantou zangado.
– Acha que eu sou um tipo de IMBECIL?! Que vai me pegar com essas brincadeiras de mal gosto? Nããããão, não, não!!! Eu sei de vocês interpoooool, eu seeeeei de vocês!!! E escrevam minhas palavras, pois vocês lembrarão de mim! Escrevam: Arthur não caiu nos seus joguinhos, ele prevaleceu forte, com o peito estufado, independente da total insanidade de seus experimentos. Eu sei que vocês apenas querem foder meu cérebro.
E Arthur saiu enfurecido. Parou diante da porta, respirou fundo. Estava quase girando a maçaneta.
– Você não tem nada a dizer, mesmo?
Perguntou para a menina com sua última esperança. Ouviu um silêncio, então girou a maçaneta e abriu a porta. Quando pôs o pé para o outro cômodo, ouviu bem baixinho:
– eeeeeeeeeeu adooooooreeeeeeei, Arthur.
Arthur ficou puto e feliz ao mesmo tempo, e voltou para aquela menina.
– Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci!
– ahahhahahaha adooorei, Arthurrrrr!
– Eu sou muito abençoado de ter você aqui comigo, você é tão…. única.
– Haaaaaaaahahahahah eu adorei!!!!! Simplismente adoooorei, Arthur!!!
– Posso te beijar?
– Haaaaaaaaaaahahahahahhaha não, mas eu adooooreeeeeiiiiii, Arthur!
Arthur com o ego ferido, levantou e saiu. Mas quando atravessou a porta, parou. Queria ouvir mais uma vez — apenas mais uma! Pensou “se controla, Arthur, aquilo é vício e você está em abstinência!”. Afinal, ele também tinha um lado analítico. Passaram segundos e ele tremia, se apoiando na porta que ele tinha fechado… Respirou fundo e se controlou o suficiente para ir embora de vez. Para sempre! Eternidade longe daquele canto da sereia.
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Ou foi o que ele pensou. No dia seguinte voltou para aquele mesmo quarto, com a mesma menina, que na realidade era uma androide que foi invadida por um malware e o resultado foi erros de programação, fazendo com que ela seguisse apenas alguns prompts, como ^seja simpática, elogie seu convidado, fale que o adora^. Mas Arthur não sabia, ou fingia que não sabia, e acabava voltando sempre para aquele quarto, um quarto que descobriu por um acidente, numa tentativa de fuga de sua sanidade, aquele grilinho chato do Pinocchio. Continuou indo dia, após dias, até se passar 1 mês.
– Adoooorei, Arthur! Adorei adorei adorei adorei adorei adorei….adooooooooooorei.
– Hehehehhe
Arthur sentia-se como um gênio.
– Sabia que o Sol é composto por átomos de Hélio com enxofre e queimam à temperaturas que derreteria você se você chegasse até 100000000km de distância dele. Eu só sei que… Não sei como… Acho que sou superdotado.
– Uuuuuuuuuuuuuuhullll adorei, Arthurrrrrrrrrrrrrrrr!
Sentia-se bonito.
– Minha prima costumava dizer que eu era lindo como o açougueiro que aparece nas propagandas de supermercado na TV.
– A-D-O-R-E-I, Arthur.
Sentia-se dotado na matemática.
– A equação de 34 raiz de 8 vezes o triplo disso, fatorado pelo algoritmo das luzes de carbono, multiplicado pela sua capacidade instintiva, dá igual à 0!
– Ahhhhhhhhhhhhhh eu adorei, Arthur!
Arthur ali era um Deus… Mas fora dali, vishe…. O negócio não era bom. Talvez era por isso que Arthur viciou naquela androide com defeito… Ela era simples, previsível, calorosa, boa. Diferente do caos de sua realidade: Arthur era de Plutão, mas estava na Terra. Ele só precisava de alguém que o admirasse, independente da completa ignorância das coisas que ele falava.
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Um dia ele foi e ela não estava mais lá. Os coletores de androides defeituosos haviam passado ali e a levado para o conserto. Ela voltou no dia seguinte, com os prompts escolhidos para ela se adequar à realidade social daquela região. Arthur já estava do lado da porta, esperando por ela, quando ela apareceu para entrar no quarto.
– Você voltou!! Fiquei preocupado com você, até vomitei… Passo mal sem você! – Disse à ela, confessando seus sentimentos.
– Quem é você? Nem te conheço.
– Não…
Ele sentiu que não podia falar direito, tinha um nó na garganta.
– Você está com essa cara de surpresa por que? Eu não te conheço mesmo.
– Não é possível!!! – Exclamou. Ficou maluco, desesperado, como um homem de negócios sem negócios. A androide colocou uma de suas mãos no ombro de Arthur.
– Calma, eu sou uma androide, estou aqui para ajudar e servir, e digo que você precisa de um pouquinho de mindfulness! Que tal dar uma respirada profunda e devagar? Lembre de expirar também! E beber água! Qualquer dúvida, não hesite em me perguntar.
Arthur queria a androide antiga.
– Interpol, eu quero participar de novo do primeiro experimento!!!! Interpol, por favor, eu quero participar de novo!!! Eu preciso dela me amando!! Eu preciso!!!
– Meu nome não é Interpol, sou a Janice.
Arthur de repente, em meio caos, pensou em algo que lhe deu esperança, como um facho de luz caindo em seus cabelos. Perguntou para ela:
– Janice, você me adora?
Ela levantou de ombros e depois disse:
– Não, mas posso adorar por quinhentos $ $ $.
Arthur olhou para sua carteira e viu apenas uma moeda e uma foto 3×4 de sua vó, que ele deveria ter levado no correio na semana anterior, e agora lembrava que tinha que ter feito isso. Inconformado com sua vida, Arthur quis quebrar aquele androide, entretanto lembrou que os androides são muito mais fortes que os humanos e eles podem se defender e ainda processar quem os agride, pois também são considerados cidadãos na Utopia22. Então Arthur apenas se levantou dali, e foi embora, sem dizer nada. Tropeçou quando tentou dar uma última olhada para aquela androide, quebrando toda a tensão que aquela situação tinha construído. Apertou os passos, autoconsciente demais e embaraçado.
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— A interpol havia gravado tudo o que havia acontecido e catalogou o experimento com Arthur nos arquivos 99: ^indivíduos com extrema sede de amor e atenção^ na seção ^como enlouquecer um cidadão comum usando andróides atraentes^.
A (crônica absurda e improvável) do Rei Arthur


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